*Por Eduardo Romero
Esta semana celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. Optei por falar sobre Justiça Ambiental, com o objetivo de difundir/expor algo injusto que está em nosso dia a dia e acabamos normalizando. Situações que numa democracia, infelizmente, não estão para todos. Deixo aqui a reflexão de como cada um de nós pode, com seus protestos individuais ou coletivos, contribuir para que esta realidade de injustiças ambientais e sociais diminuam e acabem de vez.
O termo surgiu nos Estados Unidos no início da década 80, a princípio como racismo ambiental, quando os moradores de um conjunto habitacional de classe média baixa descobriram que suas casas estavam erguidas junto a um canal que tinha sido aterrado com resíduos químicos industriais. Outros casos parecidos surgiram posteriormente. A partir desses fatos foi realizada uma pesquisa que demonstrou que a distribuição dos depósitos de resíduos químicos perigosos, bem como a localização de indústrias muito poluentes se sobrepunham e acompanhavam a distribuição territorial das etnias pobres nos Estados Unidos.
O termo racismo ambiental foi alterado para Justiça Ambiental por entender que tal injustiça acomete não só os negros, mas também as populações mais vulneráveis como indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares e famílias de baixa renda. Não se tratava apenas de um problema dos Estados Unidos, mas algo que se repete no mundo a fora, inclusive no Brasil. Você já parou para pensar se os impactos ambientais são compartilhados de maneira igualitária por todos?
Segundo a Constituição Brasileira, todos têm direito a um meio ambiente saudável e equilibrado. Entretanto, não é assim que acontece e vou citar um exemplo: quando ocorreu o desastre de Mariana - MG, quem ficou com os impactos? Quando ocorreu o caso do césio 137, em Goiás, maior acidente radioativo do Brasil, quem foram os impactados? Quando ocorrem deslizamentos de terras, enchentes, quem mais sofre? Mas por que chamar atenção para isso neste momento em que o País está passando por uma pandemia e chegamos ao triste número de 30 mil mortes?
Exatamente porque estamos em um momento tão delicado e que escancara ainda mais essa realidade de desigualdade e injustiça social, econômica e ambiental. Qual é a população menos assistida e mais vulnerável ao coronavírus? Os dados nacionais só reforçam o que estamos falando. A maioria das vítimas fatais da Covid-19 são pretos e pardos, com 54,8%, dos óbitos, entretanto também são as populações com menos acesso a internações que estão em 46%. São os que menos conseguem atendimentos médico especializado, e os que mais morrem da doença atualmente.
A flexibilização da quarentena que ocorre em diversas cidades, coloca em linha de frente a mão de obra trabalhadora, em grande parte das periferias, de áreas vulneráveis, o privilégio do home office está condicionado a quem tem melhores condições econômicas e sócio/culturais, pois para muitos dos brasileiros nem moradia digna existe. As questões ambientais passam pela mobilidade, saúde, economia, social, a acima de tudo por justiça. É preciso olhar para o lado e saber que as desigualdades geram abismos definindo, inclusive, quem vive mais ou vive menos. A denúncia dessa triste injustiça real é que ela afeta, de uma forma ou outra, todos nós.
*Vereador por Campo Grande, Vice-Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Campo Grande e Coordenador Nacional da Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas.