Babaçulândia, norte do Tocantins e as margens do rio. A região leva esse nome devido a grande quantidade de palmeiras de babaçu, côco da região. Deste se extrai óleo e se produz artesanato e carvão. O local é pobre e de difícil acesso. Para chegar é preciso encarar lamas, ribeirão (sem ponte) e muitos buracos . A vila Garrancho é isolada (literalmente; quando o riberião enche ninguém entra e nem sai, ele é um divisor natural). Sem infra-estrutura. Aqui são muitas as Marias, Josefas, Keilas e Cleuzas que do babaçu dependem para viver. O dia dessas mulheres começa cedo e não é nada fácil. É preciso se embrenhar na mata e catar os côcos (muitas aproveitam e extraem a castanha por lá mesmo). Trabalhar com o produto, que exige força e habilidade. E assim, de castanha em castanha, artesanato em artesanato, elas vão se mantendo e mantendo suas famílias. O ofício é passado de geração a geração. Há anos se tornou a forma de sustento e trabalho. É o que esse povo aprendeu a fazer. É o que os mantém nesse local.
o orgulho...
Há três anos elas organizaram a Associação de Quebradeiras de Côco, e estão orgulhosas. Compraram maquinários e entraram de vez na produção do artesanato. Aproveitando o babaçu por inteiro. "Tenho orgulho de ser quebradeira de côco", afirma Keila, a presidente. As peças têm valor agregado e dá melhor renda para as artesãs. Compensa pelo financeiro e também é menos trabalhoso que a forma tradicional de quebra.
o medo...
Tudo caminha bem, obrigado. Ôpa, será? A associação está montada e vendendo muito. Dando outra cara e sentido ao local (castigado). Mas...há uma ameaça, ou promessa? Parte da região norte, às margens do rio Tocantins, está fadada á morte. Um mega projeto de construção de usina hidrelétrica está em andamento. Muitos lugares, inclusive Babaçulândia, será coberto de águas. Interesses de grande capital. "Parece um castigo. A gente conseguiu se organizar, estamos vivendo melhor e corremos esse risco. Nem sabemos pra onde vamos e como vamos ficar!", desabafa dona Maria.
a compensação ...a dúvida...
Como medida compensatória a empresa responsável pela barragem irá deslocar as famílias e "indenizá-las" (no Brasil já vivemos muitos problemas parecidos). Prometem (avalizadas pelo governo) infra-estrutura e condições "dignas" (o que será digno para eles?). A grande dúvida que paira no ar é: além das famílias eles também removerão as palmeiras de babaçu? Ou será que as donas Marias, Josefas, Keilas e Cleuzas terão que se virar, resgatar suas auto-estimas e econtrarem outro sentido na vida?