"Acabo de ler Dom Pedro II, de José Murilo de Carvalho. A História Brasileira me interessa por que de tanto repetir-se, é sempre atual.
A abolição da escravatura esteve constantemente em pauta a partir do meio do século 19, mas os donos de terras conseguiram evitá-la por diversos meios.
- Sem escravos não existe agricultura no Brasil !
- O imperador quer a abolição só para mostrar-se na Europa !
- Quem vai ressarcir os proprietários de escravos ?
Alguns anos depois percebemos que mais que assegurar um direito humano (como se fosse pouco) a escravatura era um empecilho para a construção de um país de fato. Os donos de terras até gostavam de dispor de mão de obra muito barata, mas isto ia contra o verdadeiro progresso do país.
Faz 20 anos que ouço o lobby ruralista dizendo
- O Código Florestal vai acabar com a agricultura do país !
- Isto é pressão de ONGs estrangeiras !
- Quem vai nos ressarcir pela área perdida ??
Melhorar nosso ambiente é tarefa para todos e todos têm dado sua contribuição. A indústria sofre pesada regulação ambiental tanto do governo como de seus consumidores. Cidadãos têm sua carga de impostos aumentada, em parte para melhorar a conservação. Assim como no caso da escravatura, há proprietários de terras com mais visão que já estão no século 21, mas muitos ainda perdem tempo em Brasília tentando tapar o sol com a peneira.
Talvez conseguirão, considerando sua esperteza de tentar aprovar a urgência da votação da alteração do código florestal enquanto a bancada ambientalista estava em Cancun (não avisei que o encontro era uma fria ???). Um golpe de mestre que quase regrediu o país umas cinco décadas.
O lobby ruralista simplesmente teme o efeito desinfetante da luz do sol que o debate acadêmico e a participação populares vão trazer.
Agora, um dia depois desta coluna ter ido para os jornais, vemos que até nisto eles são muito espertos. De fato, a pressão popular não só conseguiria, como de fato conseguiu adiar a votação. Este adiamento é importante para que sejam incorporadas as opiniões públicas, acadêmicas e do Ministério do Meio Ambiente.
Acadêmicos têm trazido idéias interessantes, como a que não falta terras para agricultura e pecuária (já que há muita terra subutilizada). O país gasta muito para manter as universidades públicas. Não seria recomendável ouvir o que seus melhores professores têm a dizer ? Veja três destes trabalhos em meu blog http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
Até agora, bastou fazer agricultura como mineração; explora e parte para outra. Agora que não temos mais fronteira agrícola, é melhor começar a pensar em uma agricultura mais sustentável, e o Código Florestal contribui para isto.
Prestem atenção, que esta gente lá em Brasília está quase trazendo a escravatura de volta para nosso país".
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Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
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